Para o Ministério Público, Lula manobrou para fugir da
investigação
Os promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo
afirmam que a prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é
"imprescindível", pois concluem que ele movimentará "toda a sua
rede violenta de apoio para evitar que o processo crime que se inicia com a
presente denúncia não tenha seu curso natural, com probabilidade evidente de
ameaças a vitimas e testemunhas e prejuízo na produção das demais provas do caso,
impedindo mesmo o acesso no ambiente forense, intimidando-as a tanto".
A afirmação consta nas justificativas para o pedido de prisão preventiva de
Lula, denunciado pelos crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica no
caso do tríplex do Guarujá.
O caso será analisado pela juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, da 4ª
Vara Criminal de São Paulo, que ainda não tem prazo para fazê-lo.
Os promotores citam matérias de jornais e a conduta do ex-presidente, após ser
obrigado a depor a Polícia Federal no âmbito da Lava Jato, para afirmar que
Lula "sempre buscou manobras para evitar que a investigação criminal do
Ministério Público avançasse".
"As atuais condutas do denunciado Luiz Inácio Lula da Silva, que outrora
chegou a emocionar o país ao tomar posse como Presidente da República em
janeiro de 2003 ("o primeiro torneiro mecânico" a fazê-lo de forma
honrosa e democrática), certamente deixariam Marx e Hegel (sic)
envergonhados," afirmam, em seu pedido de prisão preventiva do ex-presidente,
os promotores.
É provável que os promotores tenham confundido os nomes dos pensadores alemães.
Ao invés de filósofo Friedrich Hegel, que viveu entre 1770 e 1831, eles
deveriam estar se referindo a Friedrich Engels (1820-1895), contemporâneo de
Karl Marx (1818-1883) e apoiador das ideias do autor do clássico "O
Capital".
O documento cita o também alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), lembrando da
sua teoria do "super-homem".
Ainda como justificativa para a prisão, o trio de promotores paulistas afirma
que Lula "protagonizou verdadeiro ataque às instituições do Sistema
de Justiça, fato ocorrido em vídeo gravado pela deputada federal Jandira
Feghali (PCdoB-RJ)". Nele, o ex-presidente queixa-se, irritado, ao
telefone:"Eles que enfiem no c... todo o processo!".
Outro Lado
O advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins,
afirmou, em nota divulgada na noite desta quinta-feira (10), que o pedido de
prisão preventiva do Ministério Público de São Paulo busca "amordaçar um
líder político, impedir a manifestação do seu pensamento e até mesmo o
exercício de seus direitos. Somente na ditadura, quando foram suspensas todas
as garantias do cidadão, é que opinião e o exercício de direitos eram causa
para a privação da liberdade."
A deputada federal Jandira Ferghalli (PCdoB-RJ) enviou nota ao UOL, na tarde de
terça-feira (15), em que afirma que o pedido de prisão preventiva do
ex-presidente Lula "não tem qualquer base legal que o sustente. Não passa
de um amontoado de inconsistências coroadas pelo item 127, que trata de vídeo
por mim gravado."
Sobre o vídeo citado no pedido dos promotores, a deputada afirma que "o
ex-presidente Lula não dava, naquele momento, declaração a mim. Eu gravava um
vídeo que captou Lula, ao fundo, conversando e sem saber que a imagem e áudio
estavam sendo captados." Jandira acrescenta ainda que " Lula usou uma
expressão informal em sua conversa. E, para constar, o ex-presidente Lula não
se referiu ao processo, mas sim ao acervo presidencial."
A nota se encerra afirmando que "a democracia também se faz com um Poder
Judiciário forte e comprometido. A parcialidade não combina com a história de
nossa justiça."