Um dos executivos apontados como operadores de offshores
do chamado "departamento de propina" da Odebrecht disse em depoimento
à força-tarefa da Lava Jato que a empreiteira controlou 42 contas offshores no
exterior, sendo que a maior parte delas foi criada após aquisição da filial de
um banco, o Meinl Bank Antigua, no fim de 2010.
Vinícius Veiga Borin citou em delação premiada transferências
"suspeitas" das contas associadas à Odebrecht que somam ao menos US$
132 milhões. O delator é o primeiro a falar em detalhes sobre as transações
internacionais do grupo por meio de offshores.
Borin trabalhou em São Paulo na área comercial do Antigua Overseas Bank (AOB),
entre 2006 e 2010. Ele e outros ex-executivos do AOB se associaram a Fernando
Migliaccio e Luiz Eduardo Soares, então executivos do Departamento de Operações
Estruturadas - nome oficial da central de propinas da empreiteira, segundo a
Lava Jato - da Odebrecht para adquirir a filial desativada do Meinl Bank, de
Viena, em Antígua, um paraíso fiscal no Caribe.
A aquisição envolveu ainda Olívio Rodrigues Júnior, responsável por intermediar
a abertura das contas para a empreiteira no AOB. A participação de 51% da
filial da instituição financeira em Antígua foi adquirida, segundo o relato,
por US$ 3 milhões mais quatro parcelas anuais de US$ 246 mil. Ao final da
negociação, o grupo passou a ter 67% do Meinl Bank Antígua.
A 'conta' João Santana só cresce
o marqueteiro das campanhas presidenciais de Dilma Rousseff (2010 e 2014) e
Luiz Inácio Lula da Silva (2006), teria recebido US$ 16,6 milhões de três
offshores usadas pelo "departamento de propinas" da Odebrecht.
O valor é quase o triplo do já rastreado no exterior pela Lava Jato na conta do
marqueteiro com apoio de autoridades suíças - US$ 6,4 milhões. Além disso, a
operação identificou que João Santana e sua mulher e sócia Monica Moura teriam
recebido no Brasil outros R$ 23,5 milhões.
'Chinês da 25 de Março'
Ao revelar detalhes sobre as transações financeiras em offshores do
"departamento de propinas" da Odebrecht no exterior, o executivo e
delator da Lava Jato Vinícius Veiga Borin afirmou que dentre os responsáveis
por fazer as entregas de dinheiro em espécie da empreiteira no Brasil estava um
chinês apelidado de "dragão" que atuava nas lojas da 25 de março -
tradicional centro comercial da capital paulista, e dois irmãos Adir e Samir
apelidados de "kibe" e "esfirra".
As expressões "operação dragão" e "operação kibe" são
algumas das encontradas nas planilhas apreendidas pela Polícia Federal na sede
da empreiteira em Salvador durante as operações Acarajé e Xepa, 23ª e 26ª fases
da Lava Jato, respectivamente.
A utilização de codinomes e siglas para se referir aos destinatários e até
operadores de contas e responsáveis pela entrega de dinheiro era uma das
práticas do "departamento de propinas" da Odebrecht que os
investigadores estão se dedicando a desvendar.
Representante
Borin afirmou que o banco AOB começou a operar contas para a Odebrecht a partir
de um pedido de Olívio Rodrigues, que se disse representante da empreiteira e
interessado em abrir contas no banco para movimentar recursos referentes a
obras no exterior.
Ele afirmou ainda que acredita que os recursos movimentados em grande parte
pelas contras associadas à Odebrecht "eram ilícitos" ou não se
referiam a pagamentos de fornecedores ou "relativos a obras da
companhia".
Conforme o delator, com a aquisição do banco, seu grupo e o dos executivos da
Odebrecht passaram a dividir uma comissão de 2% sobre cada entrada de valor nas
contas das offshores controladas por Olívio. Da porcentagem, 0,5% ia para os
três ex-executivos do AOB, 0,5% para a sede do banco em Viena e 1% para Olívio,
Soares e Migliaccio.
A aquisição, segundo Borin, inicialmente envolveu também Vanuê Faria, sobrinho
do controlador do Grupo Petrópolis Valter Faria, que, de acordo com o delator,
teve cerca de US$ 50 milhões nas contas que mantinha no AOB bloqueados com a
liquidação do banco. Entre o fim de 2011 e 2012, Vanuê vendeu sua participação.
No depoimento, o delator disse que nunca teve contatos com Marcelo Odebrecht ou
outros executivos do grupo além dos citados. Borin afirmou que Migliacio e
Felipe Montoro, outro representante da Odebrecht, sugeriram no ano passado que
ele e os outros sócios no Meinl Bank deixassem o Brasil em razão do avanço da
Lava Jato. Segundo o delator, citaram Antígua, Portugal e República Dominicana
e chegaram a pedir um plano de gastos com a mudança.
"Que Felipe Montoro e Migliacio tinham uma grande preocupação com os
documentos do Meinl Bank, tendo aventado a possibilidade de comprarem o banco e
o encerrarem em seguida para 'sumirem' com a documentação", diz trecho do
depoimento.
Olívio está preso e é réu na Lava Jato. Luiz Eduardo Soares também cumpre
prisão preventiva no Paraná. Ambos respondem por formação de quadrilha e
lavagem de dinheiro na Lava Jato por pagamentos da empreiteira no exterior e em
espécie no Brasil para Santana e sua mulher. Migliaccio está preso na Suíça e
responde a processo no país europeu.
Defesas
Procurada pela reportagem, a Odebrecht informou, por meio de sua assessoria,
que não iria se pronunciar sobre o depoimento. O advogado Fabio Tofic, que
defende Santana, informou que só vai se manifestar sobre o caso perante a
Justiça. As defesas de Olívio Rodrigues, de Valter Faria e Vanuê Faria não
foram localizadas.
Com informações Estadão Conteúdo
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