O juiz ainda confiscou R$ 46,4 milhões — depositados em
euros em contas do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, réu na mesma ação
contra Dirceu
O juiz federal Sergio Moro decretou o confisco do imóvel onde funcionou a
empresa de consultoria do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula), a
JD Assessoria, e também da casa localizada no município de Passa Quatro, em
Minas, onde reside a mãe do petista. Moro ainda confiscou R$ 46,4 milhões —
depositados em euros em contas do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, réu na
mesma ação contra Dirceu —, "valor mínimo necessário para indenização dos
danos decorrentes dos crimes, a serem pagos à estatal, o que corresponde ao
montante pago em propina à Diretoria de Serviços e Engenharia".
Segundo o juiz, esse montante foi incluído como custo das obras no contrato e
suportado pela Petrobras. A decisão foi tomada na mesma sentença em que Moro
condenou Dirceu a 23 anos e três meses de prisão por corrupção passiva, lavagem
de dinheiro e organização criminosa na Operação Lava-Jato.
O ex-ministro e aliados teriam recebido propina de R$ 15 milhões do esquema
instalado na Petrobras entre 2004 e 2014. Os pagamentos foram realizados para a
JD Assessoria que emitia notas de serviços supostamente fictícios. A JD ficava
em um endereço caro de São Paulo, na Avenida República do Líbano, Ibirapuera. A
empresa fechou as portas depois do estouro da Lava Jato.
"Calculada em quinze milhões de reais a propina recebida pelo grupo
político de José Dirceu de Oliveira Soares, ficam os bens deste sujeitos ao
confisco criminal como produto do crime ou bem de valor equivalente",
ordenou o juiz da Lava-Jato no despacho. De acordo com a sentença os bens
congelados "constituem diretamente produto do crime ou foram adquiridos
com esses valores".
Além da antiga sede da JD Assessoria — "adquirida em parte com valores
provenientes do crime" — e da residência situada no município mineiro de
Passa Quatro, habitado pela mãe de Dirceu, o juiz da Lava-Jato mandou confiscar
um imóvel em nome da TGS Consultoria, "mas de propriedade de fato do
ex-ministro", no caso uma chácara, Gleba N, Parque do Vale da Santa Fé, em
Vinhedo (SP) que recebeu reformas e benfeitorias "com valores provenientes
do crime".
Também caiu na malha da Lava-Jato um imóvel em nome de Camila Ramos de Oliveira
e Silva, filha de Dirceu, que foi vendido simuladamente com transferência de
recursos provenientes do crime à Jamp Engenheiros, na Rua Assungui, bairro da
Saúde em São Paulo. A Jamp pertence ao lobista Milton Pascowitch que foi preso
com o ex-ministro, em agosto de 2015, mas acabou fechando acordo de delação
premiada e foi solto. Inicialmente, R$ 103.777,40 foram bloqueados em contas de
Dirceu.
"Quanto ao imóvel em nome de Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de
Dirceu, na Rua Estado de Israel, Saúde, São Paulo, que recebeu reformas e
benfeitorias com valores provenientes do crime, fica o confisco prejudicado
pois consta que foi transferido a terceiro antes do sequestro", destacou o
juiz no despacho.
Sergio Moro incluiu em sua decisão "o confisco de até o montante total de
R$ 46,412 milhões dos saldos sequestrados nas contas em nome da offshore
Milzart Overseas e da offshore Pamore Assets, constituída também no Panamá, no
Banco Julius Baer, no Principado de Monaco, com saldo de cerca de 20.56 milhões
de euros, e que pertencem de fato ao condenado Renato de Souza Duque". O
ex-diretor da Petrobras pegou 10 anos de prisão, nesta ação, por corrupção.
"Observo que há indícios de que essas contas receberam propinas também
decorrentes de outros contratos da Petrobras, estando sujeitos os saldos à
decretação de confisco em outras ações penais, o que significa que, apesar do
elevado valor, não necessariamente será o confisco ora decretado suficiente
para restituir à vítima o produto dos crimes que constituem objeto deste
feito", assinalou o juiz.
Além da Jamp Engenheiros, a empreiteira Engevix Engenharia também teria
abastecido a JD Assessoria. Para Moro, "é certo que os crimes também
afetaram a lisura das licitações, impondo à Petrobras um prejuízo nos contratos
com a Engevix Engenharia ainda não dimensionado, já que, por exemplo, com
concorrência real, os valores dos contratos poderiam ficar mais próximos à
estimativa de preço e não cerca de até 16% mais caros".
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom - Agência Brasil
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