Está a maior onda na Internet por causa de um pequeno bate-boca — muito menos
grave do que gritaram os coelhinhos do Bambi — entre Chico Buarque, acompanhado
de alguns amigos bêbados, e um grupo de rapazes que decidiu lhe fazer algumas
cobranças políticas. Creio que todo mundo saiba já do que falo. Se não souber,
segue aqui.
Será que Chico Buarque é um merda?
Em primeiro lugar, todos sabem, e o arquivo está aí, não endosso que pessoas
sejam abordadas em restaurantes, bares ou lojas em razão de sua posição política
— a menos que seja uma manifestação de simpatia, como vive acontecendo comigo,
o que me deixa muito feliz. Mais de uma vez, já escrevi aqui e disse na rádio
Jovem Pan que quem pretende cassar o direito de o adversário se manifestar é o
PT.
Em segundo lugar, o tal "merda" que tanto barulho fez precisa ser
devidamente qualificado. Chico trata seus interlocutores com evidente menoscabo
e, num dado momento, a exemplo de alguns outros pinguços que estão com ele,
manda ver: "Você é um merda!". Ao que o outro responde: "Eu
queria ouvir da sua boca: 'Você é um merda' E quem apoia o PT o que é que
é?". E Chico responde: "Um petista!". E ouve: "É um
merda!".
Embora eu insista que esse tipo de abordagem, ainda que na rua, não me agrada,
não há agressividade na fala dos rapazes, mas indignação com as opiniões
políticas de um sujeito que usa a fama conquistada na música para fazer
política. Logo, se ele colhe reações políticas de seu discurso — não consta que
seus interlocutores estivessem ali para contestar os seus trinados —, isso está
absolutamente dentro do aceitável, desde que as coisas sejam ditas e expressas
de modo civilizado.
E civilizada, convenham, a conversa estava, até que Chico rompe o padrão para,
segundo indica o vídeo, chamar o outro de "merda" (1min08s). Sim, ele
o fez primeiro.
O filhinho de papai
Em terceiro lugar, destaque-se a arrogância do fidalgo, que começou a vida
sendo incensado porque, afinal, era filho de Sérgio Buarque de Holanda, o
autor, entre outros, do clássico "Raízes do Brasil". É nesse livro
que Buarque de Holanda, o pai, explica Buarque de Holanda, o filho.
Segundo Sérgio, um dos traços mais característicos da formação do Brasil é o
chamado "homem cordial", aquele que não distingue o espaço público do
espaço privado; que usa da condição alcançada ou herdada na esfera privada para
impor a sua vontade no espaço público, de sorte que a lei do compadrio se
sobrepõe às instituições.
Vejam lá com que sem-cerimônia Chico exige credenciais de seus interlocutores.
Diz um dos jovens, aludindo ao fato de que o cantor, de fato, passa a maior
parte do tempo em Paris: "Meu pai também está em Paris. É gostoso Paris,
né?". E Chico, com a empáfia do patronato descrito por seu pai:
"Rapaz, engraçado, eu não tou te reconhecendo!". Aí diz o outro:
"Você é famoso! Eu não sou!". Indagado, o interlocutor revela seu
sobrenome, e o Chico do Sérgio o repete, com esgar de desprezo. O filho de
Sérgio Buarque exige credenciais de quem fala com ele. O pai diria que o
comportamento de seu rebento é a cloaca moral do "homem cordial" de
"Raízes do Brasil".
E quer saber a quais "nomes de família" ele dá a graça de suas
bobagens. Sai perguntando a cada um. Um barbudo, visivelmente alterado pela
consciência etílica, quer saber de "onde" é um dos que conversam com
ele. Ao ouvir um "não interessa", o pançudo grita: "Interessa!
De onde cê é?".
Há outras coisas até divertidas no vídeo. Quando um dos rapazes lembra que
Chico mora a maior parte do tempo em Paris, o que é fato, ele diz, em tom de
acusação, que o outro é leitor da VEJA. Digamos que seja. Chico
certamente gosta da imprensa de nariz marrom que incensa tudo o que ele produz
e escreve, preste ou não.
Nota: ele já fez músicas de alta qualidade, sim. Seus livros, no entanto, são
um lixo subliterário, e ele só parou de ganhar Jabutis em penca depois que
apontei a patuscada que fazia dele um vencedor que nem precisa disputar. Ele me
atacou num artigo. Demonstrei por que seus livros são ruins. Ele enfiou o rabo
entre as pernas. Fidalgo! Será que Chico é um merda?
Irresponsável
Chico Buarque, incensado pela imprensa também por suas ignorâncias, é um homem
notavelmente autoritário. Sai por aí, se preciso, a espalhar as mentiras mais
asquerosas em nome da ideologia. E, como se nota, não gosta de ser cobrado.
Escrevi aqui, no dia 16 de setembro, umhttp://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/as-mentiras-asquerosas-de-stedile-e-chico-buarque/ sobre
um vídeo que ele gravou com João Pedro Stedile, o chefão do MST, em que ambos
sustentam haver um plano de privatização da Petrobras. Vejam:
Fatos:
– Inexiste plano para privatizar a Petrobras — infelizmente!;
– o projeto a que se referem apenas permite que, caso a Petrobras não possa ser
sócia de campos de exploração do pré-sal, abra mão dessa primazia;
– o projeto é vital para o pré-sal porque, pela lei atual, se a Petrobras não
puder arcar com os 30% que lhe cabe na sociedade, nada se faz.
Mas Stedile e Chico mentem a respeito com o desassombro de que só o esquerdismo
e a má-fé são capazes. Será que Chico é um merda?
Trono da empulhação
Chico Buarque quer defender as causas mais estúpidas, violentas e
antipopulares, mas acha um absurdo que possa ser cobrado por isso — o que é
repetido bovinamente por boa parte da imprensa. Vejam as barbaridades
praticadas nas escolas públicas de São Paulo. Por mais que se possa censurar a
Secretaria de Educação por não ter sabido expor direito as vantagens da
reestruturação, esta era e é necessária. É mentira, pra começo de conversa, que
haverá "fechamento" de escolas.
Não obstante, um grupo de 18 ignorantes disfarçados de artistas, liderados por
Chico Buarque, produziu um vídeo hediondo, com uma letra idiota, sobre uma
causa estúpida. E tudo em defesa das invasões. O autor da enormidade é um tal
Dani Black, capaz de escrever barbaridades como:
"A vida deu os muitos anos de estrutura do humano
À procura do que Deus não respondeu
(…)
Ninguém tira o trono do estudar".
Procurem no arquivo deste blog. Tenho um "IPI" infalível. O que é o
IPI? Índice de Picaretagem Intelectual. Sei que estou diante de um picareta
sempre que ele transforma verbo em substantivo, um processo que a gramática
chama de "derivação imprópria". Basta que alguém diga algo como
"o estudar", "o brincar", "o fazer", "o
reivindicar", e eu logo me desinteresso e olho para o vazio. É que não
suporto "o empulhar".
Sem contar que Dani Black — quem é esse, caramba?! — acha que a busca de Deus
nada produziu de positivo para a cultura, talvez nem a "Suma
Teológica"… E o tal Dani e os outros 17 imbecis estão certos de que falam
em nome da cultura e da educação.
Como prosador, Chico é uma lástima, mas ele já soube produzir boas letras, até
ser derrotado por uma "mulher sem orifício" — seja lá o que isso
signifique e que não possa eventualmente ser remediado com Citrato de
Sildenafila, Tadalafila, chá de catuaba ou reza braba. É claro que o autor da
bela música "Soneto" é capaz de reconhecer uma letra ruim — embora seu
soneto tenha se atrapalhado um pouco no ritmo, com a irregularidade das
tônicas: os versos ora são sáficos, ora são heroicos, ora não são nada. Mas
Chico é um letrista, não um poeta, como dizem.
Prepotentes
O dado mais encantador dos nossos artistas "progressistas" é sua
alastrante ignorância. Acham que podem se posicionar sobre qualquer assunto que
diga respeito à sociedade, expelir regras, posicionar-se, entrar na rinha
política, mas se negam a ser cobrados. Quando isso acontece, agem como Chico
Buarque: "Seu merda!". Ou, pior ainda do que isso, apelam ao
famoso "Sabem com quem está falando?". Ou não foi isso o que Chico
fez, mas de modo espelhado: "Quero saber com quem estou falando…"?
Todos sabem que o movimento de invasão das escolas nada tinha a ver com
estudantes. Trata-se de uma inciativa liderada pelo PT — particularmente por
uma de suas milícias: o MTST, comandado por Guilherme Boulos — , com um claro
propósito político, partidário e ideológico. Será que Chico Buarque é um merda?
Abaixo, publico uma edição que o Movimento Brasil Livre fez do vídeo dos
ignorantes engajados, com comentário de Fernando Holiday, um dos coordenadores.
Volto depois.
Encerro
Holiday chama de "playboys" os que abordaram Chico. É o único pequeno
trecho de sua abordagem de que discordo. Nem sei se são. E se forem? Quando
"playboys" se opõem à roubalheira, seja a do PT, seja de qualquer
outro, acho isso positivo. Prefiro esses aos playboys e, sobretudo,
"playmen" que passaram a puxar o saco do PT para ter o privilégio do
Bolsa Juros, do Bolsa Subsídio, do Bolsa Desoneração, do Bolsa BNDES, do Bolsa
Rico…
Chico Buarque, que jamais fez uma mísera crítica a ditaduras de esquerda,
tornou-se uma das faces visíveis da justificação de um governo criminoso. Do
alto de sua sapiência, diz que, se seus interlocutores acham o PT bandido, ele,
Chico, acha "o PSDB bandido". Tem o direito de achar. Mas também tem
o dever de apontar onde está ou esteve o banditismo. Não duvido que haja ou
tenha havido bandidos no PSDB e em qualquer legenda. A questão está em definir
quando a bandidagem se torna um sistema de governo.
É possível que ainda volte ao assunto. Dito isso tudo, acho que vocês já têm
mais elementos para responder: será que Chico Buarque é um merda?
Ele deixou claro, de modo arrogante, que nem sabia com quem estava falando. Mas
nós sabemos muito bem com quem estamos falando.
Ademais, o mais laureado, nem importa se justa ou injustamente, dos ditos
"artistas brasileiros" deveria é se envergonhar de apelar a coisas
como a Lei Rouanet para divulgar a sua obra. O subsídio — porque é disso que se
trata — à obra de Chico, ora vejam, poderia virar remédio ou leitos nos
hospitais do Rio — não na Zona Sul, onde ele solta seus trinados.
Chico, em suma, é o homem que seu pai lastimou em "Raízes do Brasil".
Será que Chico Buarque é um merda?