A morte e a cadeia liquidaram o bando formado em 2011
para reeleger Hugo Chávez
Quatro meses depois de transformar Dilma Rousseff em sucessora, cinco semanas
depois de transferir o gabinete no Planalto para o poste que fabricou, Lula
resolveu começar com mais de um ano de antecedência a campanha presidencial na
Venezuela. Em 24 de fevereiro de 2011, como revelou nesta sexta-feira o site de
VEJA, o palanque ambulante comunicou ao embaixador Maximilien Arveláiz,
representante da república bolivariana no Brasil, que só a certeza de que Hugo
Chávez conseguiria outro mandato no ano seguinte poderia livrá-lo da insônia
perpétua.
"Eu durmo tranquilo porque sei que ele está na presidência, mas também
perco o sono pensando que Chávez pode perder as eleições de outubro de
2012", disse Lula durante a reunião sigilosa num hotel de São Paulo com o
embaixador venezuelano. "Uma derrota de Chávez seria igual ou pior que a
queda do muro de Berlim". (Se encarasse o tema numa prova do Enem, o
estadista de araque não conseguiria rabiscar nem dez linhas, todas
ininteligíveis, sobre o episódio que precipitou a dissolução do império
soviético. Juntara-se à Irmandade dos Órfãos do Muro certamente por ouvir as
lamúrias de Fidel Castro sobre aquela tremenda safadeza do imperialismo
ianque).
Antes que o diplomata lhe perguntasse, o ex-presidente contou que já planejara
o que fazer para que o amigo venezuelano permanecesse no poder ao menos até
2017. Em parceria com José Dirceu, ele cuidaria da montagem e da coordenação de
um "comando de apoio à reeleição" sediado em território brasileiro. A
primeira missão do grupo seria acelerar a entrada da Venezuela no Mercosul, um
triunfo político que ampliaria o campo de manobra de Chávez no subcontinente.
"Isso é fundamental", sublinhou Lula.
Tão fundamental quanto o desembarque na campanha chavista de um especialista em
fazer o diabo para ganhar eleição, foi em frente o cabo eleitoral. Para encorpar
a votação do amigo venezuelano com uma propaganda eleitoreira exemplarmente
enganosa, Lula tinha o homem certo: João Santana, naturalmente. No telegrama
que resumiu a conversa no hotel, endereçado ao chanceler Nicolás Maduro, o
embaixador Arveláiz rebatizou o marqueteiro do reino lulopetista de
"Joel" Santana. O conhecido treinador de futebol está fora dessa.
Em maio, outro telegrama avisou a Maduro que Lula pousaria na Venezuela em 2 de
junho, depois de uma escala em Cuba, e pretendia aproveitar a oportunidade para
acertar com Hugo Chávez, em conversas a dois, os detalhes do projeto eleitoral.
Oficialmente, ressalvou o embaixador, o visitante baixaria por lá para
participar de um encontro com empresários organizado por Emilio Odebrecht. É
uma informação preciosa: já estava em ação, disfarçado de palestrante, o camelô
de empreiteira que seria aposentado pelas descobertas da Operação Lava Jato.
Só faltou combinar com o destino, sabe-se hoje. Surpreendido durante a campanha
pelo câncer, Chávez morreu em março de 2013 sem assumir o mandato conquistado
cinco meses antes. A partir de 2 de agosto de 2012, José Dirceu afastou-se do
grupo de cúmplices para dedicar-se em tempo integral a escapar de punições pelo
envolvimento com a quadrilha do Mensalão. Condenado por corrupção pelo Supremo
Tribunal Federal, foi preso em 12 de novembro de 2012. Depois de alguns meses
em liberdade condicional, foi atropelado pelas investigações da Lava Jato e
continua engaiolado em Curitiba.
João Santana, que ajudou Chávez a ganhar a eleição, também afundou na
roubalheira do Petrolão de mãos dadas com a mulher, Mônica Moura. Depois de
algum tempo engaiolado em Curitiba, o casal tenta driblar o caminho de volta à
cadeia pelo atalho da delação premiada. Enredado em distintas maracutaias, réu
em três processos, Lula há muito tempo deixou de ser convidado para comícios e
palestras no Brasil e no Exterior. Hoje, só juízes federais se interessam pelo
que tem a dizer o chefão encurralado.
-:/brasilsoberanoelivre.blogspot.com.br/2016/10/lula-so-esqueceu-de-combinar-com-o.html
- (Revista Veja - Por Augusto Nunes - foto)
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