As revelações feitas por Marcelo Odebrecht à força-tarefa
da Lava Jato, repetidas em depoimento à Justiça Eleitoral, retiraram de Dilma
Rousseff o último patrimônio político que ela imaginava ostentar: a presunção
de superioridade moral. Ela já havia perdido a pureza ideológica ao encabeçar
coligações eleitorais que incluíam do arcaico ao medieval. Perdera a aura de
gerentona e a poltrona de presidente da República após reduzir a economia
nacional a escombros. Agora, é submetida a um ritual de emporcalhamento que
aniquila o que lhe restava de individualidade, integrando-a à baixeza geral.
Foi para o beleléu a diferença heroica.
Em síntese, o príncipe das empreiteiras contou: 1) Dilma
sabia que João Santana, seu marqueteiro, era remunerado pela Odebrecht no caixa
dois. 2) Madame sabia também que Antonio ‘Italiano’ Palocci e Guido
‘Pós-Italiano’ Mantega faziam dupla jornada como ministros e coletores de
fundos para suas campanhas presidenciais. 3) Reeleita, a soberana foi informada
pelo próprio empreiteiro de que as contas abertas no estrangeiro para pagar o
marketing do seu comitê estavam ao alcance dos investigadores da Lava Jato.
Em nota de sua assessoria, Dilma tachou os segredos de
Marcelo Odebrecht de “novas mentiras”. Ainda não se deu conta de que suas
verdades é que estão se transformando numa espécie de latifúndio improdutivo
que os delatores da Odebrecht invadem. A nota sustenta que Dilma “jamais pediu
recursos para campanha” a Marcelo Odebrecht. Tampouco “solicitou dinheiro para
o Partido dos Trabalhadores”. Ora, mas o delator disse exatamente a mesma
coisa.
Dilma não precisou pedir nada. Tinha quem solicitasse em
seu nome. “[…] Quem pediu os valores específicos era o Guido, eu me assegurava
que ela [Dilma] sabia mais ou menos da dimensão do nosso apoio”, contou
Odebrecht ao TSE, falando num idioma parecido com o português. “Ela dizia que o
Guido ia me procurar, mas eu nunca falei de valor. A liturgia, a questão de
educação, você não fala com o presidente ou o vice-presidente a questão do
valor.”
Em 2010, contou Odebrecht, Dilma não teve que se
preocupar com as arcas da campanha. Lula, o “amigo” da Odebrecht, se encarregou
de tudo, com o luxuoso auxílio do grão-petista Antonio Palocci. Dilma
“praticamente nem olhou as finanças, acho que todos os pedidos de doação foram
feitos por Lula, Palocci. Ela nem se envolvia em 2010”, esmiuçou o empreiteiro.
Dilma soube do que se passava na bilheteria porque Lula
se encarregou de informar, contou Marcelo Odebrecht. As verdades de Dilma sobre
questões relacionadas à tesouraria foram, por assim dizer, herdadas de Lula. O
tamanho dessas verdades vem sendo questionado desde o mensalão. Sempre que a
conjuntura exigiu garantias, verificou-se que, além de improdutivas, as
verdades do petismo estavam assentadas sobre um gigantesco brejo.
De repente, Dilma descobre que não é a dona da verdade.
Bem ao contrário. A colaboração judicial da Odebrecht transformou-a numa
sem-verdade. Parte das informações do empreiteiro já haviam sido descobertas
pelos investigadores. A Lava Jato apalpou os extratos da conta de João Santana
na Suíça antes que o herdeiro da construtora cogitasse suar o dedo. Não é
razoável supor que Dilma, centralizadora a mais não poder, estivesse alheia ao
melado que escorria nos porões do seu comitê.
Considerando-se que uma ex-guerrilheira jamais cogitaria
a hipótese de se tornar uma delatora, restam a Dilma duas escassas
alternativas: ou aceita sua parcela de culpa ou funda o MSV (Movimento dos
Sem-Verdade), assumindo a liderança da cruzada nacional por uma reforma
semântica que devolva algum sentido a quem já não tem nenhum.
(Odebrecht faz de Dilma uma pobre sem-verdade – Josias de
Souza)
(ap. Ely Silmar Vidal – skype: siscompar – fones:
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