Se Letícia Sabatella procurar acertos de Dilma Rousseff
nas farmácias dos hospitais públicos abastecidas pelo SUS, ou nos dados de
segurança pública pertinentes à administração federal, nos projetos de
saneamento básico ou nas políticas públicas para erradicar a prostituição
infantil e a leishmaniose tegumentar, não os encontrará. Os acertos, segundo a
Lava Jato, deram-se com os operadores do Petrolão.
Mas a que erros Sabatella alude em "Não querem tirar Dilma pelos erros,
mas pelos acertos"? O único erro de Dilma foi tornar-se ministra e
candidatar-se à presidência; depois disso não errou mais, só delinquiu. Se
manca, Letícia, é crime até mesmo usar o Planalto para tal estroinice de ataque
contra uma nação indignada.
Um reiterado crime da presidente flagrada no gozoso jeito lulopetista de
governar que faz do gangsterismo um instrumento de Estado. Isso não vigoraria
sem um zeitgeist mal-assombrado que anima a desqualificação dos indignados numa
linguagem odiosa, cercada pelo silêncio convergente, que agora os chama
golpistas.
Os artistas, intelectuais e jornalistas criativos (nem falo do JEG), calados a
respeito, passaram a acusar o ódio e o radicalismo de quem está farto de ser
tratado de modo radicalmente odioso. A frase de efeito da Sabatella teve o
efeito pilantra de sugerir que os pró-impeachment não queremos um Brasil são,
mas foi o bando integrado por Dilma que sempre rejeitou, como oposição e
governo, o saneamento do país.
A atriz adere à novilíngua que, aprendemos em Orwell, não é uma língua nova,
mas um uso novo do significado que vai habitar outro significante por imposição
do pensamento aprisionado na ideologia à prova de luz e ar; vigarice que, na
voz melíflua de Sabatella, vigarice permanece. O verbo na terceira pessoal do
plural sem a referência a nenhum termo anteriormente identificado indetermina o
sujeito nas frases em português, mas o "querem" da Sabatella abriga
80% de brasileiros determinados a se livrarem da súcia e dessa metafísica que
lhe dá suporte filosófico-estético, um lixo com jeito bacana de coisa
progressista.
Somos o "eles" indeterminado na novilíngua da escória para quem a
nação é coisa difusa e desimportante obrigada a custear o nós-escória incluindo
os capangas de Boulos e Stédile que a ameaçam se a lei for cumprida. O que
farão os exércitos imaginários de delinquentes reais? Não sei se avançarão além
do que já fazem impunes as minorias fascistoides opressoras da maioria
pacífica.
O que sei é que a truculência delas tem suporte na metafísica que ataca a lei e
a verdade nas declarações e atitudes pró-governo ecoadas por certo jornalismo,
como o editorial da Folha de domingo pretendendo apenas substituir a
Constituição. Sem que haja nada consistente contra o vice-presidente, o jornal
repele a solução constitucional na posse de Temer e quer eleições porque ele é
impopular, os crimes de Dilma não estão cabalmente (!) comprovados, o
impeachment deixaria ressentimentos (sic).
Ora, quando aderiu ao impeachment de Collor, o jornal não cobrou popularidade
de Itamar Franco; não refutou os crimes apontados; e não temeu mágoas remanescentes.
É que vale qualquer disparate contra a Constituição para resguardar um governo
mafioso (os erros), mas de esquerda (o acerto) – eis do que se trata.
Juristas contra a lei, intelectuais contra o pensamento, artistas contra a
dissidência e jornalistas defendendo essa porcaria, todos embotados no
nauseabundo esquerdismo que determina o lado da verdade e da lei quando a
verdade e a lei, com erros e acertos, só têm um lado: o da verdade e o da lei.
Se manca, Letícia.
-veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/opiniao-2/valentina-de-botas-se-manca-leticia/
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