Oficializar maconha é abrir fábrica de esquizofrênicos,
diz psiquiatra Valentim Gentil Filho, que foi o entrevistado do Roda Viva desta
segunda-feira
Se o Brasil seguir a tendência de outros países e oficializar a indústria da
maconha, nós teremos "uma fábrica de esquizofrênicos". A opinião é do
psiquiatra Valentim Gentil Filho, professor titular da Faculdade de Medicina da
USP (Universidade de São Paulo), convidado desta segunda-feira (4) do programa
Roda Viva, apresentado ao vivo na TV Cultura e reproduzido pelo UOL.
Para o psiquiatra, considerado um dos mais influentes do país, a sociedade tem
sido conivente e omissa em relação à droga, e os riscos provocados por ela não
têm sido bem divulgados. Gentil Filho contou no programa que, segundo estudos
bem fundamentados, a maconha aumenta em 310% o risco de esquizofrenia quando
consumida uma vez por semana na adolescência. E trata-se de uma doença incurável:
"O esquizofrênico pode ter uma vida praticamente normal, mas sempre há uma
sequela".
Maconha queima neurônio? PARCIALMENTE VERDADE: estudos comprovam que fumar
maconha antes dos 15 anos de idade diminui o QI, mas essas mesmas pesquisas
mostram que, após os 20 anos, a maconha não traz problemas cognitivos.
"Essa diferença tem a ver com a maturação do cérebro, porque na
adolescência ele ainda está terminando de se formar. Entre os 15 e os 20 anos é
uma faixa nebulosa, onde não foi possível comprovar qual o impacto. Ainda
assim, consideramos uma idade de risco", explica Thiago Marques Fidalgo,
psiquiatra do Hospital A.C.Camargo
O psiquiatra sugeriu que, assim como pais permitem que seus filhos consumam
álcool em festas, a informação distorcida de que maconha não faz mal fará com
que eles deixem os jovens fumarem em casa. E o problema é que, nos
adolescentes, que estão em uma fase de "poda" natural do cérebro para
a entrada na idade adulta, a droga é especialmente prejudicial.
Maconha não mata neurônios; conheça os mitos e verdades sobre o uso da droga
O professor também fez críticas à chamada luta antimanicomial, que fez o Brasil
fechar milhares de leitos psiquiátricos sem proporcionar alternativas. Ele
ressaltou que o atual modelo dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) não tem
como substituir o atendimento ambulatorial e as internações psiquiátricas. Para
Gentil Filho, não se trata de abandonar os pacientes em manicômios, mas
garantir o tratamento em fase aguda. Ele reforçou que, atualmente, só um terço
dos pacientes psiquiátricos diagnosticados recebe tratamento.
Para o psiquiatra, tanto a luta antimanicomial quanto a vinda de cubanos (pelo
programa Mais Médicos) fazem parte de uma visão mais ampla que a medicina, de
uma mentalidade que persiste no Ministério da Saúde e tem raízes
político-ideológicas. Na prática, segundo ele, o que acontece é que há um
número absurdo de pessoas com transtornos graves nas ruas, rejeitadas por
hospitais e por outras instituições. "Há uma desassistência fenomenal e
nós temos recursos terapêuticos", lamentou.
Depressão e pânico
O convidado do Roda Viva também falou sobre o aumento no diagnóstico de
depressão, que para ele é fruto de diversos fatores, como a ampliação dos
conceitos sobre a doença e a descoberta de novas moléculas que se mostram mais
eficazes que o placebo. Ao falar de outros transtornos que têm sido mais
frequentes, ele também mencionou a síndrome do pânico. Entre as possíveis
causas desse aumento, de acordo com o especialista, estão o maior consumo de estimulantes,
cafeína e medicamentos com ação no sistema nervoso e atitudes como a privação
de sono, capazes de deflagrar crises. Mas ele pondera que o estresse não é algo
novo na humanidade, assim como os transtornos mentais. "Eu prefiro viver
hoje do que nos tempos bíblicos", ironizou.
O programa apresentado pelo jornalista Augusto Nunes e a bancada de
entrevistadores contou com Fernanda Bassette (repórter de saúde do jornal O
Estado de São Paulo), Ulisses Capozzoli (editor-chefe da Revista Scientific
American Brasil), Paulo Saldiva (professor titular da Faculdade de Medicina da
USP, especialista em poluição atmosférica), Aureliano Biancarelli (jornalista
da área de saúde) e Luciana Saddi (psicanalista, escritora e blogueira da Folha
de São Paulo). O Roda Viva ainda teve a participação do cartunista Paulo
Caruso.
UOL - 05/11/2013
-noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/11/05/legalizar-maconha-e-abrir-fabrica-de-esquizofrenicos-diz-psiquiatra.htm
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