Sem apoio ao pensamento liberal, não importa quantas
Dilmas destruírem o Brasil, pois elas serão produzidas em série.
A nova Dilma está sentada ao lado da sua filha na escolinha
A "batalha do impeachment" é a ponta do iceberg de um problema maior,
problema este que transcende em muito o cenário mais imediato da crise política
brasileira e que independe do destino do impeachment e de sua personagem
tragicômica Dilma.
Mesmo após o teatro do impeachment, a história do Brasil narrada pelo PT
continuará a ser escrita e ensinada em sala de aula. Seus filhos e netos
continuarão a ser educados por professores que ensinarão esta história. Esta
história foi criada pelo PT e pelos grupos que orbitaram ao redor do processo
que criou o PT ao longo e após a ditadura. Este processo continuará a existir.
A "inteligência" brasileira é escrava da esquerda e nada disso vai
mudar em breve. Quem ousar nesse mundo da "inteligência" romper com a
esquerda, perde "networking".
Ao afirmar que a "história não perdoa as violências contra a
democracia", José Eduardo Cardozo tem razão num sentido muito preciso. O
sentido verdadeiro da fala dos petistas sobre a história não perdoar os golpes
contra a democracia é que quem escreve os livros de história no Brasil, e quem
ensina História em sala de aula, e quem discorre sobre política e sociedade em
sala de aula, contará a história que o PT está escrevendo. Se você não acredita
no que digo é porque você é mal informado.
O PT e associados são os únicos agentes na construção de uma cultura sobre o
Brasil. Só a esquerda tem uma "teoria do Brasil" e uma
historiografia.
Esta construção passa por uma sólida rede de pesquisadores (as vezes, mesmo
financiada por grandes bancos nacionais), professores universitários,
professores e coordenadores de escolas, psicanalistas, funcionários públicos
qualificados, agentes culturais, artistas, jornalistas, cineastas, produtores
de audiovisual, diretores e atores de teatro, sindicatos, padres, afora, claro,
os jovens que no futuro exercerão essas profissões. O domínio cultural absoluto
da esquerda no Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos.
Erra quem pensa que o PT desaparecerá. O do Lula, provavelmente, sim, mas o PT
como "agenda socialista do Brasil" só cresce. O materialismo
dialético marxista, mesmo que aguado e vagabundo, com pitadas de Adorno,
Foucault e Bourdieu, continuará formando aqueles que produzem educação, arte e
cultura no país. Basta ver a adesão da camada "letrada" do país ao combate
ao impeachment ao longo dos últimos meses.
Ao lado dessa articulada rede de agentes produtores de pensamento e ação
política organizada, que caracteriza a esquerda brasileira, inexiste
praticamente opção "liberal" (não vou entrar muito no mérito do
conceito aqui, nem usar termos malditos como "direita" que deixam a
esquerda com água na boca).
Nos últimos meses apareceram movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL que parecem
mais próximos de uma opção liberal, a favor de um Brasil menos estatal e
vitimista. Ser liberal significa crer mais no mercado (sem ter que achá-lo um
"deus") e menos em agentes públicos. Significa investir mais na
autonomia econômica do sujeito e menos na dependência dele para com
paternalismos estatais. Iniciativas como fóruns da liberdade, todas muitos
importantes para quem acha o socialismo um atraso, são essencialmente
incipientes. E a elite econômica brasileira é mesquinha quando se trata de
financiar o trabalho das ideias. Pensa como "merceeiro", como diria
Marx. Quer que a esquerda acabe por um passe de mágica.
O pensamento liberal no Brasil não tem raiz na camada intelectual, artística ou
acadêmica. E sem essa raiz, ele será uma coisa de domingo a tarde.
A única saída é se as forças econômicas produtivas que acreditam na opção
liberal financiarem jovens dispostos a produzir uma teoria e uma historiografia
do Brasil que rompa com a matriz marxista, absolutamente hegemônica entre nós.
Institutos liberais devem pagar jovens para que eles dediquem suas vidas a
pensar o país. Sem isso, nada feito.
Sem essa ação, não importa quantas Dilmas destruírem o Brasil, pois elas serão
produzidas em série.
A nova Dilma está sentada ao lado da sua filha na escolinha.
Luiz Felipe Pondé - Filósofo - 15/05/2016 - (Publicado originalmente na Folha)
-puggina.org/artigo/outrosAutores/a-historia-do-brasil-do-pt/7893
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